"Imagem e semelhança do Criador" e suas implicações em nossos relacionamentos pessoais
Certo indígena cristão evangélico, aluno de um curso universitário do tipo (Para formar rápido), era sempre alvo de chacota de um de seus professores que fazia questão de em suas aulas falar algo com intuito de expor a bíblia ao ridículo. Certo dia, o professor perguntou ao indígena:
_ Por que você defende tanto a bíblia?”
Respondeu-lhe o indígena:
_ Eu não defendo a bíblia. A bíblia é que me defende! Você fica dizendo que eu sou descendente do macaco, e a bíblia diz que foi Deus quem me criou.
Aceitamos com muita facilidade a forma como a ciência classifica os seres humanos: “animais racionais”.
No entanto, tanto Gênesis 1 quando Gênesis 9 deixa muito claro a distinção entre animais e seres humanos. No sexto dia Deus criou os animais e no mesmo dia, num momento à parte, Deus criou o homem com uma característica que o diferencia de todos os demais seres criados - a imagem e semelhança do Criador.
No capítulo 9 após o dilúvio, Deus permitiu que se derramasse o sangue de animal e a sua carne fosse utilizada para consumo humano (v. 3, 4). Por outro lado, o sangue do homem derramado, Deus disse que iria requerer, pedir contas, tanto do animal quanto do homem. E, no v. 6, pela primeira vez, Deus estabeleceu a “pena de morte”.
Ou seja, este texto revela que homem derramar o sangue de um animal não acarretaria nenhuma punição. Mas, o homem que derramasse o sangue de outro homem seria punido. Por que Deus iria requerer, pedir contas do sangue do homem? O v.6 oferece uma explicação simples e objetiva: porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.
Poucas vezes nós paramos para refletir. Mas, o fato de termos sido criados imagem e semelhança de Deus tem implicações profundas na maneira como nos relacionamos conosco mesmos e com os outros. Vamos pensar um pouco sobre algumas dessas implicações.
1. Como ser humano, nós temos um valor intrínseco; um valor que nos é próprio; um valor ligado a nós.
Você é imagem e semelhança do Criador. Isso é suficiente para que você valorize a si mesmo, perceba que você tem valor.
Algumas experiências na vida marcam a nossa alma, nos traumatizam, nos fazem sentir um “nada”, geram sentimentos de rejeição com a nossa aparência, e nos fazem odiar a nós mesmos.
Algumas dessas experiências estão relacionadas à nossa criação.
Muitos de nós fomos criados sob um bombardeio diário de palavrões, de palavras de desprezo que ouvimos de nossos pais (“burro”, cabeça oca, jumento, leso, você não vale nada, você nunca vai ser nada na vida). Em muitos de nós, essas coisas foram gravadas, impressas em nossa alma, entranhadas na sede das emoções.
Sabemos que, dependendo da fase da vida e da estrutura emocional, esse tipo de criação gera jovens e adultos com marcas profundas na alma, incapazes de acreditarem em si mesmos, com alta estima baixa, com um forte sentimento de desvalorização se si; gera “jovens travados”, incapazes de sonhar e dar passos maiores na vida. Resultado de uma criação que os desvalorizou como pessoa.
Algumas visões defeituosas e depreciativas que temos de nós mesmos estão muito ligadas a algumas experiências humilhantes que passamos na vida por sermos pobres (humilhados por parentes, patrões...); por pertencermos a uma família sem muita importância na sociedade; por não nos encaixarmos no padrão de beleza imposto pela mídia; por causa da cor da nossa pele (somos cidadãos de um país racista); por sermos de outra raça (indígena, por exemplo). Conhecia um grande líder indígena que durante sua adolescência e juventude estudando numa escola com filhos de não-indígenas, sentia vergonha de ser quem era. Consciente do preconceito que existe com relação aos indígenas em nosso país, ele disse: “Eu sentia vergonha de ser índio. Então dizia: Eu sou japonês.”
Esses tipos de experiências e outras mais nos fazem sentir um “nada”, um “ninguém”; nos leva a não gostarmos de nós mesmos, (dá aparência que temos, do corpo que temos, do peso que temos); nos leva a travarmos uma luta contra o espelho, a andarmos de cabeça baixa, a não acreditarmos que podemos ser ou conseguir algo na vida.
Esses tipos de experiências têm levado muitos a vivenciarem a “síndrome do coitadinho”, a sentirem pena de si mesmos, a se sentirem rejeitados mesmo em ambientes onde não são rejeitados.
É possível que algum leitor se identifique com o que foi falado, porque alguma experiência na vida o marcou profundamente.
Lembre-se! Você é imagem e semelhança do Criador do universo. Não importa o que disseram que você é; não importa o que você acha que é; não importa se você gosta ou não de si mesmo, de sua aparência, de ter nascido na família que nasceu. Você é imagem e semelhança do Criador. Ele te criou do jeito D'ele! Ele é apaixonado por você! Ele te ama como você é! Independentemente do jeito do seu cabelo, da cor da sua pele, do seu status social, do seu peso e altura, da família a que você pertence e da casa que você mora.
Isso é suficiente pra você valorizar a si mesmo e se libertar da “síndrome do coitadinho”
Outra implicação do fato de termos sido criados a imagem de Deus é que...
2. Devemos ser cuidadosos com o trato que dispensamos a outras pessoas
No texto de Gênesis 9, Deus, o Criador, exigiu tratamento diferenciado com o homem: Animal podia-se derramar o seu sangue e comer a sua carne. Agora, se um animal ou um homem derramasse o sangue de outro homem, ambos seriam punidos por isso.
Na sua palavra, Deus estabeleceu leis que protegem o ser humano contra tratamentos desumanos.
Depois da 2ª guerra mundial, o mundo ficou chocado com as barbáries e as atrocidades cometidas contra os seres humanos. Uma das primeiras medidas tomadas para proteger seres humanos de tratamentos desumanos, foi a elaboração da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
No dia 10 de dezembro de 1948 numa Assembléia geral da ONU, foi adotada e proclamada a DUDH na qual constam os diretos que todos os seres humanos possuem. Historiadores dizem que o primeiro registro de uma declaração dos direitos humanos foi “Cilindro de Ciro”, escrito por Ciro, o grande rei da Pérsia, por volta de 539 a.C.
No entanto, o que os historiadores ignoram é que bem antes de Ciro, Deus deu a Moisés leis civis, religiosas e morais que tratam do relacionamento do homem com o seu próximo; que protegem o homem de tratamento desumano; que ensinam e reconhecem a dignidade do ser humano; que determinam que gente seja tratada como gente.
De sorte que, se os mandamentos registrados na palavra fossem reconhecidos e obedecidos não haveria necessidade alguma de uma Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O Deus que estabeleceu esses mandamentos é contra qualquer tipo de exploração do ser humano; é contra qualquer atitude que agrida a dignidade do homem. Ele se revela nas escrituras como Deus dos desvalidos, como o protetor dos desprotegidos, como o defensor dos injustiçados. Ele é o Deus do órfão, da viúva e dos necessitados.
Ele se coloca contra os senhores que não tratam com dignidade os seus servos; ele se opõe aos patrões que exploram e agridem com palavras a dignidade dos seus funcionários.
Ele se coloca contra qualquer ser humano, rico ou pobre, patrão ou empregado que humilhe, destrate e fira a dignidade humana.
O assassinato, o derramamento do sangue humano é a maior agressão do ser humano ao ser humano. Essa agressão o priva do direito de viver. A fim de proteger o homem, no Antigo Testamento, Deus estabeleceu: “não matarás”. No Novo Testamento, Jesus trouxe à tona o “principio” profundo que estava além da letra do mandamento: “... todo aquele que se irar contra o seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Raca (uma expressão que menospreza a capacidade mental de alguém - tolo, louco) estará sujeito ao fogo do inferno.” (Mateus 5. 22)
Portanto, devemos ser cuidadosos no trato que dispensamos às pessoas. Seja quem for a pessoa, independentemente da cor de sua pele, da sua aparência, da sua raça, da sua classe social, do seu poder aquisitivo, do seu credo religioso, precisamos tratá-la com respeito e dignidade porque é imagem e semelhança do Criador.
Por ser o homem imagem e semelhança de Deus, a forma como o tratamos provoca reações no seu Criador. Humilhações, palavras ferinas, insultos contra o homem, agridem Aquele que o criou! “O que escarnece do pobre insulta aquele que o criou” (Provérbios 17.5)
Não nos enganemos, qualquer relação de dominação, de exploração, tratamentos injustos com seres humanos refletem diante do seu Criador. Em sua carta, Tiago, repreendendo os ricos que exploravam trabalhadores, escreveu:
“Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está chamando; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos”. (Tiago 5.4)
Portanto, precisamos tratar o ser humano com o seu devido valor, seja ele quem for, pois é a imagem e semelhança de Deus.
Você pode está pensando: Esta reflexão é muito humanista! No entanto, no humanismo o valor do homem está ligado ao próprio homem. Ou seja, o homem tem valor simplesmente porque é homem. Porém, na palavra de Deus o valor do homem está ligado a Deus. Ou seja, o homem tem valor porque é a imagem e semelhança do Criador.
Conclusão
Em Cristo Jesus, o valor do ser humano é muito maior. Em Cristo, o homem não é apenas criatura, ele torna-se filho de Deus (Jo1 12). Em Cristo, além da condição de criatura, agora estamos na condição de filhos.
Como criatura, portadora da imagem de Deus, o homem tem valor. Como seguidor de Jesus, agora como filho, o homem tem um valor muito maior.
Em Cristo, somos não somente a imagem de Deus, mas também a “morada de Deus” em espírito. Onde quer que andemos o Senhor não somente está conosco, Ele está em nós.
Portanto, em Cristo, como filhos e como “morada de Deus” temos um valor muito maior. Libertemo-nos da “síndrome do coitadinho” e sejamos cuidadosos no tratamento que dispensamos a um filho de Deus. Ao tocar nele, “você toca na menina dos olhos de Deus”.
Há uma canção que ressalta o valor que temos em Cristo: “Quero que valorize o que você tem você é um ser você é alguém tão importante para Deus. Nada de ficar sofrendo angústia e dor nesse seu complexo inferior dizendo, às vezes, que não é ninguém. Eu venho falar do valor que você tem. Você tem valor! O Espírito Santo se move em você.”
(Pr. Armado Filho)
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